Candidíase Mamária: Entendendo a Dor na Amamentação e Como Tratar

Candidíase mamária

Se amamentar se tornou uma experiência de dor intensa, com fisgadas e queimação, você não está sozinha. Mas é fundamental entender que sentir dor a esse ponto pode não ser “normal”. Uma das possíveis causas, muitas vezes sub diagnosticada, é a candidíase mamária.

Essa condição é uma infecção fúngica, geralmente causada pelo fungo Candida albicans (o mesmo que causa a candidíase vaginal e o “sapinho” oral). Ele pode se proliferar nos mamilos e, em casos mais severos, nos ductos mamários, transformando um momento que deveria ser de conexão em uma fonte de angústia.

O ponto-chave para superar o problema é compreender que o tratamento eficaz envolve cuidar tanto da mãe quanto do bebê simultaneamente. Essa abordagem em dupla é a única forma de quebrar o ciclo de reinfecção e restaurar o conforto na amamentação.

(A Candida pode afetar várias partes do corpo. Saiba mais em nosso guia completo sobre Candidíase.)

Os Sintomas Clássicos da Candidíase na Mama

Identificar os sinais corretamente é o primeiro passo para buscar a ajuda certa. Os sintomas podem se manifestar de formas diferentes na mãe e no bebê, mas estão diretamente conectados.

Sinais na Mãe

  • Dor Aguda e Profunda: A dor da candidíase mamária é muito característica. Mães a descrevem como “agulhadas”, “fisgadas” ou a sensação de “vidro moído” por dentro do mamilo e da mama. Essa dor costuma ser mais intensa durante e, principalmente, após as mamadas, podendo irradiar pelas costas ou braço.
  • Sensação de Queimação: Uma ardência persistente nos mamilos que não alivia, mesmo entre as mamadas.
  • Aparência do Mamilo: Os mamilos podem ficar com uma aparência avermelhada, rosada, brilhante e esticada. Em alguns casos, apresentam descamação fina, pequenas bolhas ou rachaduras que não cicatrizam. Coceira intensa também é um sintoma comum.

Sinais no Bebê (Conectando os Pontos)

Muitas vezes, a pista final para o diagnóstico está na boca do seu filho.

  • Sapinho” (Candidíase Oral): Observe a presença de placas ou pontos brancos na língua, no céu da boca, gengivas ou na parte interna das bochechas do bebê. Diferente de resíduos de leite, essas placas não saem facilmente com uma gaze ou raspagem e podem até sangrar se forem forçadas.
  • Irritabilidade: O bebê pode parecer desconfortável, ficar agitado durante as mamadas, soltar o peito com frequência ou até mesmo recusá-lo por causa do incômodo na boca.
  • Assadura por Fungo: A infecção pode passar pelo trato digestivo do bebê e aparecer na área da fralda. Fique atenta a uma vermelhidão intensa e brilhante, com pequenas bolinhas ou pústulas vermelhas espalhadas ao redor da área principal (chamadas de lesões satélites). Essa assadura não melhora com as pomadas de barreira comuns.

Diagnóstico: Por que é Essencial Diferenciar de Outras Dores?

Esta seção é crucial. A candidíase mamária é frequentemente confundida com outras condições comuns da amamentação, o que pode levar a tratamentos ineficazes e prolongar o sofrimento. Um diagnóstico preciso é a chave para o alívio.

O diagnóstico é primariamente clínico, ou seja, baseado na combinação dos sintomas da mãe e do bebê. Por isso, é vital procurar um profissional de saúde qualificado (consultor de amamentação, obstetra ou pediatra).

Veja as principais condições que podem ser confundidas com a candidíase:

  • Pega Incorreta: É a causa mais comum de dor. A dor da pega errada é mais forte no início da mamada e tende a melhorar ao longo dela. Geralmente, causa traumas visíveis, como fissuras, bolhas ou um formato de “batom” no mamilo logo após o bebê soltar o peito.
  • Fenômeno de Raynaud: Uma condição vascular em que o fluxo sanguíneo para o mamilo é temporariamente reduzido. Após a mamada, especialmente com exposição ao frio, o mamilo fica pálido (branco), depois azulado/roxo e, por fim, vermelho, enquanto o sangue retorna. A dor é em pontada e pulsátil, mas está diretamente ligada a essa mudança de cor.
  • Mastite Bacteriana: É uma infecção do tecido mamário que causa dor, vermelhidão, calor e inchaço em uma área específica e bem delimitada da mama (geralmente em um quadrante). É quase sempre acompanhada por sintomas sistêmicos, como febre alta, calafrios e mal-estar geral, semelhante a uma gripe forte.

Fatores de Risco: O que Favorece a Infecção?

A Candida albicans vive naturalmente em nosso corpo. A infecção ocorre quando há um desequilíbrio que permite seu crescimento exagerado. Alguns fatores aumentam esse risco durante a amamentação:

  • Trauma Mamilo: Fissuras, rachaduras ou lesões causadas por uma pega incorreta são a principal porta de entrada para o fungo.
  • Uso Recente de Antibióticos: Tanto pela mãe quanto pelo bebê. Os antibióticos combatem as bactérias, mas podem eliminar também as “bactérias boas” que controlam a população de fungos, abrindo espaço para a Candida se multiplicar.
  • Umidade Constante: O uso de absorventes de seio úmidos por longos períodos ou sutiãs de material sintético que não permitem a pele respirar cria o ambiente quente e úmido que o fungo adora.
  • Histórico de Candidíase Vaginal: Ter tido episódios de candidíase vaginal, especialmente durante o final da gravidez, pode aumentar a predisposição.

O Tratamento em Dupla: Cuidando da Mãe e do Bebê

Aqui está o segredo do sucesso: mãe e bebê devem ser tratados ao mesmo tempo, mesmo que um deles não apresente sintomas claros. Tratar apenas um levará inevitavelmente à reinfecção do outro.

Para a Mãe

  • Antifúngicos Tópicos: A primeira linha de tratamento costuma ser o uso de cremes ou pomadas antifúngicas (como Nistatina, Miconazol ou Clotrimazol) aplicados em uma fina camada nos mamilos e aréolas após cada mamada. Não é preciso remover a pomada antes da próxima mamada, mas siga sempre a orientação médica.
  • Antifúngicos Orais: Se a dor for muito intensa, sugerindo uma infecção mais profunda nos ductos mamários, ou se o tratamento tópico não resolver, o médico pode prescrever um antifúngico oral, como o Fluconazol.
  • Violeta de Genciana (com cautela): Uma solução mais antiga, mas eficaz em alguns casos. Deve ser usada em baixíssima concentração (0,5% ou 1%) e apenas com estrita orientação profissional, pois o uso incorreto pode causar irritação.

Para o Bebê

  • Antifúngico Oral: O tratamento padrão é um antifúngico em suspensão (como Nistatina líquida) ou em gel oral (Miconazol). O medicamento deve ser aplicado com um cotonete ou com o dedo limpo na parte interna das bochechas, gengivas e língua do bebê, várias vezes ao dia e após as mamadas.

Cuidados de Higiene Essenciais Durante o Tratamento

A medicação é apenas parte da solução. A higiene rigorosa é fundamental para eliminar o fungo do ambiente e evitar a recontaminação:

  • Lave as mãos rigorosamente com água e sabão antes e depois de amamentar, de aplicar as medicações e de trocar as fraldas.
  • Ferva tudo o que entra em contato com a boca do bebê ou com o seu leite: bicos de mamadeira, chupetas, mordedores e as partes da bomba de extração de leite devem ser fervidos por pelo menos 10 minutos, uma vez ao dia.
  • Troque os absorventes de seio a cada mamada ou sempre que estiverem úmidos. Prefira os descartáveis durante a infecção.
  • Lave sutiãs, toalhas e roupas de cama que entram em contato com as mamas em água quente.
  • Exponha os mamilos ao ar e à luz solar por alguns minutos todos os dias, sempre que possível. A ventilação ajuda a manter a pele seca e dificulta a proliferação do fungo.

Conclusão: A Amamentação Não Precisa Ser Dolorosa

A dor intensa e persistente não é uma parte obrigatória ou “normal” da jornada da amamentação. Ela é um sinal de alerta de que algo precisa de atenção.

Com o diagnóstico correto e o tratamento em dupla, é totalmente possível superar a candidíase mamária e retomar uma amamentação prazerosa e confortável. O caminho para o alívio começa com a informação de qualidade e a busca por suporte especializado.

Não hesite em procurar um profissional de saúde experiente. Cuidar de você é o primeiro passo para cuidar bem do seu bebê e construir memórias felizes dessa fase tão especial.

FAQs

1. Posso continuar amamentando durante o tratamento de candidíase mamária? 

Sim, na grande maioria dos casos a amamentação não só pode como deve continuar. Interromper a amamentação pode levar a outros problemas, como ingurgitamento e mastite. A chave é iniciar o tratamento em dupla (mãe e bebê) o mais rápido possível para aliviar a dor e quebrar o ciclo da infecção.

2. Quanto tempo leva para o tratamento fazer efeito? 

Geralmente, mãe e bebê começam a sentir alívio dos sintomas dentro de 2 a 4 dias após o início do tratamento correto. No entanto, é crucial completar todo o ciclo de medicação prescrito pelo médico (geralmente de 10 a 14 dias) para garantir que o fungo seja completamente eliminado e evitar que a infecção retorne.

3. O leite que extraí e congelei durante a infecção pode ser usado? 

Esta é uma questão controversa. Embora o congelamento não mate o fungo Candida, alguns protocolos sugerem que o leite pode ser oferecido ao bebê sem problemas, já que ele já está sendo tratado. Outros especialistas recomendam descartar o leite armazenado durante uma infecção ativa para evitar o risco de reinfecção. A melhor abordagem é discutir essa questão com seu pediatra ou consultor de amamentação.

4. O que fazer se os sintomas não melhorarem com o tratamento inicial?

 Se não houver melhora significativa após alguns dias de tratamento tópico, é fundamental retornar ao seu médico. Pode ser necessário reavaliar o diagnóstico (para garantir que não seja outra condição), trocar o tipo de medicação antifúngica ou iniciar um tratamento com antifúngico oral para a mãe.

5. Como posso prevenir a candidíase mamária no futuro?

 A prevenção passa por controlar os fatores de risco. Garanta sempre uma pega correta do bebê para evitar traumas no mamilo, mantenha os mamilos o mais secos possível (trocando absorventes com frequência e usando sutiãs de algodão), lave bem as mãos e equilibre o uso de antibióticos sempre com orientação médica. Uma dieta balanceada e pobre em açúcar também pode ajudar a manter a flora corporal em equilíbrio.

Compartilhe

Mais sobre este assunto