Sentir coceira e desconforto na região íntima durante a gravidez é muito comum. Longe de ser um motivo para alarme, essa é uma situação que muitas gestantes enfrentam. Uma das causas mais frequentes é a candidíase vaginal e a boa notícia é que ela é tratável de forma completamente segura para você e para o bebê.
Este artigo foi criado para ser seu guia claro e confiável. Aqui, vamos explicar por que a candidíase acontece na gestação, como identificar os sinais e, o mais importante, quais são as opções de tratamento seguras e recomendadas pelo seu médico para garantir seu bem-estar.
Para entender melhor o fungo Candida e como ele age, leia nosso guia completo sobre Candidíase.
Por que a Candidíase é Tão Comum na Gravidez?
Se você foi diagnosticada com candidíase, saiba que não é culpa sua. A gestação cria um ambiente naturalmente propício para que o fungo Candida albicans, que já vive em nosso corpo, se prolifere. Isso acontece por uma combinação de fatores:
- A “Tempestade” Hormonal: O aumento significativo do estrogênio eleva os níveis de glicogênio na vagina. Essa substância funciona como um verdadeiro “alimento” para o fungo Candida, estimulando seu crescimento.
- Alterações no pH Vaginal: As mesmas mudanças hormonais tornam o ambiente vaginal menos ácido. Um pH mais elevado favorece a multiplicação de fungos em detrimento das bactérias protetoras que compõem a flora vaginal saudável.
- Imunidade Adaptada: Para não rejeitar o feto, o sistema imunológico da gestante passa por uma adaptação natural, tornando-se mais tolerante. Uma consequência disso é uma menor capacidade de combater infecções oportunistas, como a candidíase.
Identificando os Sinais: Sintomas da Candidíase Vaginal na Gestação
Os sintomas podem variar em intensidade, mas geralmente são fáceis de reconhecer. Fique atenta se você apresentar um ou mais dos seguintes sinais:
- Coceira intensa na vagina e na vulva (área externa), sendo este o sintoma mais característico.
- Corrimento esbranquiçado, espesso e geralmente sem cheiro, com uma aparência que lembra “leite coalhado” ou “ricota”.
- Ardência ou dor ao urinar, causada pela urina entrando em contato com a pele inflamada.
- Vermelhidão e inchaço na região da vulva.
- Desconforto ou dor durante a relação sexual.
Diagnóstico Seguro: A Importância da Consulta Médica
Ao notar qualquer um desses sintomas, a primeira e única atitude segura é agendar uma consulta com seu obstetra ou ginecologista.
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Caixa de Alerta: Não se Autodiagnostique!
Os sintomas da candidíase podem ser muito semelhantes aos de outras condições, como a vaginose bacteriana ou algumas Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Cada uma dessas infecções exige um tratamento completamente diferente.
Tratar a condição errada não apenas atrasa a cura, mas pode oferecer riscos reais à sua saúde e à do bebê se a infecção correta não for tratada a tempo.
Como o Médico Confirma o Diagnóstico?
O diagnóstico é simples e rápido, feito no próprio consultório.
- Exame Clínico: Na maioria dos casos, o médico confirma a candidíase durante o exame físico, ao observar as características do corrimento e a aparência da mucosa vaginal.
- Análise Laboratorial: Se houver dúvida ou em casos de infecções recorrentes, o médico pode coletar uma pequena amostra da secreção vaginal para análise em laboratório (cultura), identificando o agente causador com precisão.
A Candidíase na Gravidez Pode Prejudicar o Bebê?
Esta é, sem dúvida, a principal preocupação de toda mãe. A resposta direta é: a candidíase vaginal precisa ser tratada, principalmente para proteger o bebê na hora do nascimento.
- Durante a Gestação: Em geral, a infecção fúngica na vagina não afeta o desenvolvimento do bebê dentro do útero. Ele está seguro e protegido dentro da bolsa amniótica.
- Durante o Parto: O risco real acontece se a mãe estiver com a infecção ativa durante um parto vaginal. Ao passar pelo canal de parto, o bebê pode ser contaminado e desenvolver a candidíase oral, popularmente conhecida como “sapinho“.
É por isso que tratar a candidíase antes do parto é um passo fundamental de cuidado. Ao eliminar a infecção, você garante um nascimento mais seguro e protege a saúde do seu recém-nascido.
Tratamento Seguro Durante a Gravidez: O que é Permitido?
O tratamento da candidíase na gestação é eficaz e seguro, desde que prescrito e acompanhado por um médico.
A Regra de Ouro: Tratamento Tópico é a Escolha
O tratamento padrão e mais seguro para gestantes é local, ou seja, aplicado diretamente na vagina. Ele envolve o uso de:
- Cremes ou óvulos (supositórios) vaginais antifúngicos.
- Os princípios ativos mais seguros e comumente prescritos são Miconazol, Clotrimazol ou Nistatina.
- O tratamento costuma durar de 7 a 14 dias e é essencial seguir o período completo recomendado pelo médico, mesmo que os sintomas desapareçam antes.
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Aviso de Segurança
Medicamentos antifúngicos em comprimidos, como o Fluconazol, não são recomendados durante a gravidez. Estudos associam seu uso, especialmente no primeiro trimestre, a um risco aumentado de malformações no feto. A via tópica é sempre a primeira e mais segura escolha.
Medidas de Suporte e Prevenção: Aliadas ao Tratamento Médico
Aviso Importante: As dicas a seguir ajudam a prevenir novos episódios e a aliviar o desconforto, mas não substituem o tratamento médico. Sempre siga a orientação do seu obstetra.
Adotar hábitos saudáveis ajuda a manter a flora vaginal equilibrada e a evitar que a candidíase se torne um problema recorrente.
- Higiene Cuidadosa: Lave a área externa apenas com água e, se necessário, sabonete neutro ou glicerinado. Evite duchas vaginais, lenços umedecidos e sabonetes íntimos com perfume, pois eles alteram o pH natural.
- Vestuário Adequado: Dê preferência a calcinhas de algodão, que permitem que a pele respire. Evite roupas muito justas, de tecidos sintéticos e ficar com o biquíni molhado por muito tempo.
- Deixe a Região Arejar: Sempre que possível, como ao dormir, opte por não usar calcinha. A circulação de ar ajuda a manter a área seca e menos propícia a fungos.
- Alimentação de Suporte: Reduza o consumo excessivo de açúcar e carboidratos simples (pães, massas e doces), que podem alimentar o fungo. Inclua na dieta alimentos como iogurte natural (rico em probióticos).
- Cuidados Pós-Higiene: Seque muito bem a região genital após o banho e após urinar, usando uma toalha limpa e com movimentos suaves, sem esfregar.
Conclusão: Cuidado, Conforto e Segurança na Sua Gestação
A candidíase na gravidez é uma condição extremamente comum, com uma causa bem definida pelas mudanças naturais do seu corpo e, o mais importante, com um tratamento seguro e eficaz quando orientado por um profissional.
Lembre-se de que o desconforto é temporário e que buscar ajuda médica é um ato de cuidado com você e com seu bebê.
Ao primeiro sinal de coceira ou corrimento anormal, não hesite: converse com seu obstetra. Cuidar de você é o primeiro e mais importante passo para garantir uma gestação tranquila e a chegada de um bebê saudável.
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FAQs
1. Posso usar tratamentos caseiros, como banhos de assento com vinagre ou aplicar iogurte?
Não. Embora muito populares na internet, tratamentos caseiros não possuem comprovação científica de eficácia e podem ser perigosos na gestação. Vinagre, bicarbonato de sódio ou outras substâncias podem irritar ainda mais a pele sensível da vulva e desequilibrar o pH vaginal, piorando o quadro. A única abordagem segura é usar o tratamento antifúngico tópico prescrito pelo seu médico.
2. Meu parceiro também precisa de tratamento?
A candidíase não é considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), mas a transmissão durante o contato íntimo pode ocorrer. Geralmente, o tratamento do parceiro só é necessário se ele também apresentar sintomas (como coceira ou vermelhidão no pênis). No entanto, quem deve avaliar essa necessidade é o seu obstetra. Informe-o sobre a situação para que ele possa dar a orientação correta para o casal.
3. É normal ter candidíase mais de uma vez durante a mesma gravidez?
Sim, infelizmente é comum. Como os fatores que causam a candidíase (alterações hormonais, pH e imunidade) persistem durante toda a gestação, algumas mulheres podem apresentar episódios de repetição. Se isso acontecer, é fundamental que você não reutilize uma receita antiga. Avise seu médico a cada novo episódio para que ele confirme o diagnóstico e ajuste o tratamento se necessário.
4. Como posso diferenciar o corrimento da candidíase do corrimento normal da gravidez?
Esta é uma dúvida muito comum. A principal diferença está nos sintomas associados e na aparência:
- Corrimento normal da gravidez (leucorreia): Geralmente é mais líquido, fino, de cor branca ou transparente e sem cheiro forte. Não causa coceira, ardência ou irritação.
- Corrimento de candidíase: É caracteristicamente espesso, grumoso (aspecto de “leite coalhado” ou “ricota”), sem cheiro e vem acompanhado de coceira intensa, vermelhidão e ardência.
5. Posso comprar um creme para candidíase na farmácia sem receita?
Embora alguns cremes antifúngicos sejam vendidos sem prescrição médica, é fundamental que você não se automedique durante a gravidez. Apenas um médico pode confirmar se seus sintomas são realmente de candidíase e não de outra infecção, como a vaginose bacteriana, que requer um tratamento completamente diferente. O uso do medicamento errado pode atrasar a cura e trazer riscos. Sempre aguarde a prescrição do seu obstetra.