Os avanços na área da saúde permitem à população ter mais acesso a tratamentos de ponta, que garantem mais qualidade de vida e bem-estar enquanto se recuperam de uma doença. Mas e se pudéssemos evitar as doenças? É aí que a medicina preventiva entra.
A maioria das áreas da medicina concentra-se estreitamente em uma única faixa etária, doença ou parte do corpo. Mas a medicina preventiva não possui essas fronteiras, tornando-a um campo muito amplo.
Mas o que é medicina preventiva? E por que isso é tão importante? Continue na leitura para saber mais sobre o campo da medicina preventiva e por que seu alcance abrange não apenas pacientes individuais, mas dezenas de comunidades e populações em todo o mundo – tornando a saúde um bem mais acessível e presente em nossas vidas.
O que é a medicina preventiva, exatamente?
Medicina preventiva é exatamente o que o nome indica: seu principal objetivo está na prevenção das doenças antes mesmo que elas aconteçam.
A ideologia por trás da medicina preventiva concentra-se em proteger, promover e manter a saúde e o bem-estar. Também visa evitar doenças, incapacidades e morte – individualmente e em larga escala nas comunidades e populações.
A medicina preventiva é promovida por todos os médicos, embora apenas alguns optem por se especializar nela.
Os profissionais desta especialidade usam ferramentas como exames preventivos, bioestatística e epidemiologia, bem como uma mistura de ciências médicas, sociais, econômicas e comportamentais. Isso permite que eles possam avaliar serviços de saúde ou gerenciar organizações de saúde. Eles também estudam a causa de doenças e lesões em segmentos populacionais específicos.
Um ponto interessante é que a medicina preventiva é um ramo interdisciplinar da medicina que se concentra em todo o paciente e nos muitos fatores que influenciam sua saúde.
Ela possui um escopo amplo, abrangendo elementos socioeconômicos, o papel da legislação, a equidade em saúde e as disparidades encontradas nas comunidades e em determinadas populações.
Focos de atuação da medicina preventiva
O principal objetivo da prática da medicina preventiva é a manutenção contínua do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas – antes mesmo que ganhem de fato o status de pacientes.
O investimento em prevenção permite que as pessoas possam seguir seus planos de vida e projetos normalmente – sem a necessidade de interromper tudo para enfrentar o tratamento de uma doença.
Com a prevenção, é possível garantir níveis mais elevados de disposição e da produtividade. Ao adotar um estilo de vida voltado para um cuidado mais presente com o corpo, através da adoção de hábitos mais saudáveis, o indivíduo aumenta as possibilidades de não precisar passar por tratamentos mais agressivos ao longo de sua vida.
Para isso, os profissionais que se dedicam à medicina preventiva possuem quatro focos de atuação:
Prevenção primária
Tem como meta evitar que o indivíduo contraia a doença, impedindo que ela se instale no organismo. É o foco central da medicina preventiva, que desempenha um papel essencial para combater a doença antes mesmo que ela manifeste seus primeiros sintomas.
Prevenção secundária
Esta etapa engloba rotinas e procedimentos voltados ao diagnóstico e tratamento de doenças ainda em estágio inicial. O objetivo está em impedir a evolução do quadro e possíveis danos efetivos e mais drásticos à saúde do indivíduo.
Prevenção terciária
O foco neste momento está em reduzir quaisquer impactos negativos decorrentes da doença, buscando brecar sua evolução e o desenvolvimento de questões que agrave o quadro do paciente.
Prevenção quaternária
Prevê o emprego de processos que ajudem a refrear ou minimizar todos os efeitos colaterais causados por intervenções médicas que sejam consideradas excessivas ou desnecessárias frente ao quadro atual do paciente.
Por que a medicina preventiva é importante?
As doenças crônicas, como diabetes e doenças cardíacas, são responsáveis por sete em cada dez mortes, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS.
É por isso que a triagem e o diagnóstico precoce se tornaram uma questão tão essencial para o bem-estar da população.
Os hábitos saudáveis são igualmente críticos, incluindo alimentar-se bem, exercitar-se e evitar tabagismo e o consumo de álcool em excesso. Isso ajuda as pessoas a se manterem mais saudáveis, evitando ou minimizando os efeitos de um quadro clínico negativo – como o desenvolvimento ou agravamento de uma doença.
Câncer e doenças cardíacas estão nos primeiros lugares da lista de doenças que mais matam no Brasil – segundo a OMS as doenças cardiovasculares matam mais de 15 milhões de pessoas em todo o mundo. Isso torna a medicina preventiva ainda mais importante para evitar a morte prematura e garantir mais qualidade de vida por mais tempo.
A prática de medicina preventiva também pode reduzir custos: estudos desenvolvidos por especialistas norte-americanos apontam que 75% dos gastos anuais com saúde são direcionados para doenças crônicas e amplamente evitáveis naquele país. No Brasil, o custo com a saúde pública chegou a R$ 131,2 bilhões em 2018, de acordo com o Ministério da Saúde. A expectativa é que estes números cresçam cada vez mais, à medida que a população envelhece e a expectativa de vida sobe a novos patamares.
A medicina preventiva também combate a perda de produtividade associada a doenças crônicas – saiba mais no tópico a seguir.
Medicina preventiva clínica e não clínica
A medicina preventiva pode ser praticada tanto no ambiente clínico quanto fora dele. Profissionais que atuam de medicina preventiva clínica vão além de atender pacientes – eles podem fornecer aconselhamento sobre hábitos pouco saudáveis, realizar exames preventivos de saúde e administrar imunizações – nesse sentido, vale a pena acompanhar os vídeos sobre saúde no canal do Vita.
Eles também podem trabalhar com pacientes que se beneficiariam com mudanças no estilo de vida para, assim, evitar problemas como diabetes, tabagismo ou obesidade.
Além disso, o campo da medicina preventiva também oferece várias subespecialidades, incluindo:
Medicina ocupacional
Esse ramo de medicina preventiva concentra-se no efeito do trabalho na saúde e no bem-estar físico e mental dos trabalhadores, em um esforço para evitar doenças, lesões ou prejuízos permanentes, ajudando cada indivíduo que trabalha a ser um membro seguro, saudável e produtivo da força de trabalho.
Se ocorrerem ferimentos ou doenças, profissionais atuantes na Medicina do Trabalho poderão ser acionados, para que possam fornecer tratamento ao funcionário, ajudando os empregadores a adaptar o local de trabalho às mudanças nas necessidades dos indivíduos.
Os profissionais que atuam neste setor devem possuir experiência em riscos físicos, químicos, biológicos e psicossociais no local de trabalho e como eles podem ser avaliados e gerenciados com segurança. O conhecimento das leis e regulamentos que afetam o emprego também é considerado, já que esta é uma questão importante na hora de reabilitar os funcionários para que eles possam retornar ao trabalho.
Um funcionário saudável é sinônimo de maior produtividade, mais engajamento nas tarefas do dia a dia e menor risco de lesões.
Saúde pública
A especialidade da medicina preventiva na saúde pública promove a saúde e o bem-estar em uma escala maior.
Esses médicos trabalham com comunidades e certos segmentos da população, combinando conhecimento clínico baseado em prevenção com saúde pública com dados disponíveis: localização, situações endêmicas, faixa etária e gênero.
Os profissionais que atuam na saúde pública analisam estes dados, identificando possíveis gatilhos para problemas de saúde pública e pesquisam as causas por trás deles.
Eles também desenvolvem estratégias para lidar com problemas de saúde na população em geral, o que pode levar a novos programas que promovem a saúde geral e impeçam a propagação de doenças.
Os profissionais que atuam na medicina preventiva dentro da saúde pública também consultam outras áreas governamentais para desenvolver uma legislação que beneficie a saúde de comunidades inteiras.
Este é um importante campo da medicina, que não apenas ajuda pacientes e populações a combater doenças, mas também ajuda a manter os custos com a saúde sob controle.
Benefícios da medicina preventiva
A prevenção de doenças crônicas envolve autocuidado, como seguir uma dieta saudável, ter uma rotina consistente de exercícios e abandonar comportamentos prejudiciais (como o tabagismo e o alcoolismo).
É imprescindível consultar seu médico e fazer check-ups frequentes para garantir mais saúde física e mental em todas as fases da sua vida.
Entre os principais benefícios da medicina preventiva para os indivíduos estão:
- Não apresentar sintomas dolorosos ou desconfortáveis de uma doença crônica;
- Capacidade de ser ativo e manter uma rotina dentro da completa normalidade;
- Manter o orçamento sob controle, evitando imprevistos financeiros com grandes contas médicas;
- Ampliação da qualidade de vida e longevidade;
- O tratamento de doenças crônicas torna-se mais fácil.
As intervenções que fornecem educação sobre a mudança de comportamentos prejudiciais devem começar já entre as crianças em idade escolar.
É importante salientar que o acesso aos serviços de saúde preventiva precisa ser igual para todos, já que mortes por doenças crônicas são muito mais numerosas entre as minorias e entre aqueles que pertencem às classes mais baixas dentro da estrutura de nossa sociedade.
Exames importantes dentro da medicina preventiva
Manter uma rotina de check-ups adequados à idade e gênero com relação às doenças crônicas é a melhor maneira de detectá-las ou preveni-las. Entre as cinco principais doenças evitáveis estão:
- Doenças cardiovasculares;
- Câncer;
- Diabetes;
- Doenças relacionadas à saúde mental;
- Infecções evitáveis através da vacinação adequada.
Essas doenças crônicas são as principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo. Assim, a importância dos cuidados preventivos de saúde deve começar já a partir da concepção e continuar ao longo da vida de toda a população.
Conheça a seguir as principais práticas da medicina preventiva relacionadas a cada tipo de doença.
Doenças cardiovasculares
Existem alguns testes necessários para determinar sua saúde cardíaca. Esses incluem:
- Pressão sanguínea;
- Níveis sanguíneos de lipoproteínas (colesterol, triglicerídeos, LDL e HDL);
- Índice de massa corporal (IMC).
O paciente deve ter sua pressão arterial e IMC examinados em todos os exames. A pressão arterial é importante porque é bastante comum que algumas pessoas não manifestem nenhum sintoma se ela estiver alta. Também é importante fazer um exame de sangue com perfil lipídico pelo menos a cada quatro a seis anos – ou ampliar a frequência caso os resultados apresentem alguma anormalidade ou exista algum ponto de atenção dentro do histórico médico do paciente.
Câncer
Os exames a serem prescritos dependem do tipo de câncer que o médico deseja excluir. É importante diagnosticar o câncer o mais cedo possível, enquanto as chances de cura são maiores. Entre eles estão os seguintes exames:
- Câncer de mama: mamografia;
- Câncer de cólon: colonoscopia;
- Câncer de próstata: exame digital e PSA;
- Câncer cervical: exame de Papanicolau.
A mamografia é a melhor maneira de diagnosticar o câncer de mama, mesmo que a paciente não sinta nódulos durante um exame de mama. Os médicos sugerem fazer uma mamografia inicial por volta dos 45 anos. Se os resultados forem considerados normais, os exames anuais devem começar a partir dos 50 anos.
A colonoscopia é um procedimento que verifica se há câncer no cólon e no reto. Para pessoas com baixo risco, deve-se fazer a primeira por volta dos 50 anos e a cada 10 anos, se a inicial for negativa. Ele também detecta pólipos, que são precursores do câncer.
Já para o diagnóstico do câncer de próstata existem dois testes de rastreamento: o exame digital e o exame de sangue para o antígeno prostático específico (PSA). O médico pode sentir uma próstata aumentada ou se houver nódulos. Já o PSA testa uma enzima que é alta com câncer de próstata.
O câncer cervical é o único tipo de câncer evitável por vacinas. A principal causa desse câncer é o papilomavírus humano (HPV). Meninos e meninas podem receber a vacina entre 11 e 12 anos para prevenir a infecção pelo HPV.
O câncer do colo do útero é a forma mais tratável de câncer se for detectado precocemente. Para isso, as pacientes devem fazer um exame de Papanicolau a cada três anos até os 65 anos de idade. Ou você fazer um teste de HPV e Papanicolau e a cada cinco anos após os 30 anos.
Diabetes
Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, uma em cada 11 pessoas no mundo tem diabetes. O grande risco desta doença é que ela leva a outras condições crônicas de saúde, como doenças cardíacas e renais. O diagnóstico precoce e o controle dos níveis de açúcar no sangue reduzem o risco de problemas futuros.
O ideal é que os pacientes façam exames para diabetes tipo 2 todos os anos após os 45 anos. Os testes incluem um nível de glicemia de jejum ou um nível de hemoglobina A1C. Um nível de glicemia de jejum acima de 126 mg / dL ou um nível de hemoglobina A1C acima de 6,5% significa que o indivíduo tem diabetes.
Saúde mental
Infelizmente ainda estamos engatinhando na medicina preventiva voltada para a proteção da saúde mental das pessoas em todo o mundo. Aqueles que sofrem com isso enfrentam estigma e complicações graves se não conseguirem ajuda.
É lamentável que os diálogos sobre doenças mentais ocorram apenas após uma tragédia. A prevenção pode impedir ou reduzir o suicídio, o quadro de moradores de rua, consumidores de substâncias ilícitas em todo o mundo.
Os pais, responsáveis e educadores precisam começar a educação e conscientização voltada para a saúde mental desde a primeira infância. Esperar para obter ajuda para uma criança até a adolescência pode terminar em crise ou até em casos mais drásticos.
Diagnosticar e tratar as doenças mentais precocemente ajuda a garantir melhores resultados. Também reduz a incapacidade, o absenteísmo no ambiente de trabalho e educacional, além de todo o sofrimento a longo prazo.
Infecções evitadas por vacinas
As vacinas têm um papel fundamental dentro da prevenção e combate às doenças infecciosas graves e suas complicações.
Até pouco tempo, a grande maioria dos pais no Brasil nunca tinham visto os efeitos devastadores de infecções evitáveis por vacina como o sarampo, a caxumba, a difteria e a coqueluche em crianças. Infelizmente, as campanhas de desserviço à vacinação e os mitos fizeram com que doenças erradicadas voltassem à nossa sociedade – custando ao Brasil a perda do certificado de país livre do sarampo.
É importante ressaltar que a imunidade de grandes populações contra uma doença específica é um pacto geral de proteção da saúde de toda a população. Essa medida foi muito importante para o sucesso da vacina contra a varíola, que erradicou a doença do mundo em 1980.
Os médicos recomendam vacinas específicas desde o nascimento até a adolescência – para consultar o cronograma completo, acesse nosso artigo sobre o tema.
Também é necessário observar a necessidade de certas vacinas ao viajar para diferentes países, para garantir a proteção e evitar o risco de se transformar em um agente transmissor de doenças.
O papel da tecnologia da medicina preventiva
Os últimos avanços tecnológicos no campo da saúde fornecerão serviços de saúde mais acessíveis e eficientes para os pacientes em todo o mundo.
A tecnologia promete ser a chave para ampliar a capacidade de trazer melhores tratamentos aos pacientes, uma melhoria na capacidade do médico de gerenciar doenças, além do empoderamento do paciente no gerenciamento da saúde pessoal – esses avanços já podem ser vistos de muitas maneiras, entre elas, com o uso de testes genéticos, capazes de detectar problemas antes de surgirem, controlando-os ou tratando-os para melhorar o bem-estar do paciente.
Especialistas apontam que o futuro da medicina preventiva será uma atuação totalmente centrada no paciente. Já podemos ter um vislumbre disso ao observarmos os recursos dos dispositivos vestíveis: hoje a grande maioria dos rastreadores fitness já existentes monitoram clinicamente a frequência cardíaca, a pressão arterial e outros sinais vitais. No futuro, estes dispositivos portáteis poderão ajudar a detectar sinais precoces de ataque cardíaco em um paciente e até mesmo já acionar o resgate.
A tecnologia poderá ainda ajudar a diminuir os gastos com saúde no mundo, identificando problemas de saúde em um paciente antes que eles ocorram.
A telemedicina é outro avanço inovador na área da saúde. Pesquisas mostram que, quando a telemedicina é usada de forma preventiva nas comunidades carentes, rurais ou de difícil acesso – como é o caso da população indígena no Brasil, por exemplo – as taxas de readmissão hospitalar são reduzidas, reduzindo os gastos com saúde entre os pacientes que não conseguem arcar com grandes custos.
A grande esperança de toda a comunidade médica e científica é que o uso da tecnologia permita, em um futuro próximo, encontrar a cura para o câncer, desvendar os mistérios da obesidade e reduzir significativamente as mortes cardiovasculares.
A medicina preventiva tem uma série de benefícios – e deve ser aplicada desde já
Como você pode ver neste artigo, os benefícios dos cuidados preventivos de saúde são importantes para reduzir as doenças crônicas, bem como manter sob controle os custos.
Existem algumas mudanças no estilo de vida que você pode fazer por conta própria para manter uma boa saúde e bem-estar:
- Parar de fumar;
- Fazer uso moderado de álcool;
- Seguir uma dieta bem equilibrada;
- Praticar exercícios físicos todos os dias por pelo menos meia hora.
Isso certamente aumentará seus níveis de energia, trará benefícios diretos para a sua saúde física e mental, além de garantir mais produtividade nos estudos e na vida profissional.
Infelizmente nem todas as pessoas podem alcançar esses objetivos de forma prática. Isso torna importante consultar um médico para fazer check-ups regularmente e afastar possíveis riscos para a saúde.
O objetivo da medicina preventiva é garantir que você aproveite sua vida sem ter problemas inesperados e desagradáveis. Quando você aproveita melhor o seu dia a dia, passa a contar com mais qualidade de vida e bem-estar geral.
